O desastre ambiental que atingiu as praias do Nordeste e Sudeste do país mostrou como o descarte inadequado de resíduos pode trazer consequências nefastas para a natureza. E acendeu um sinal de alerta para o mundo corporativo: será que as empresas estão dando o destino correto ao descarte?
A pesquisa Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros em Sustentabilidade, realizada pelo Sebrae com 1,8 mil empresários, indica que 81% deles já adotam iniciativas de gerenciamento de lixo.
A ação mais comum (realizada por 87% deles) é a separação de itens não recicláveis daquilo que pode ser reaproveitado. Mas apenas 31% contam com uma política integrada de gerenciamento de resíduos.
“A falta de informação ainda contribui para o descarte inadequado”, diz Cristiane Cortez, assessora técnica do conselho de sustentabilidade da FecomercioSP. Confira a seguir os procedimentos indicados para diferentes tipos de resíduos.
Plástico e papel
IMPACTO: O Brasil produz 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico ao ano — apenas 1,2% segue para a reciclagem, segundo o Banco Mundial. No caso do papel, o reaproveitamento é de 63,4%, segundo a Associação Nacional de Aparistas de Papel.
O QUE FAZER: Depois de realizar a separação dos resíduos, acione uma empresa coletora ou cooperativa de recicladores. Lá, o plástico será lavado, prensado, triturado e transformado em outros produtos.
E+: No caso do papel, as fibras de celulose são reaproveitadas.
BOAS PRÁTICAS: Em parceria com a Cooperativa de Arte Alternativa, a diretora de arte Isabelle Bittencourt usou 500 embalagens recicladas para criar luminárias usadas em performance do cantor Nando Reis na TV.
Eletrônicos
IMPACTO: Um levantamento da ONU estima que mais de 45 milhões de toneladas de eletrônicos são jogados no lixo ao ano. Do total, somente 20% recebe destino apropriado. O descarte incorreto pode expor pessoas a metais pesados e compostos perigosos, como o chumbo e o mercúrio.
O QUE FAZER: As empresas devem criar um sistema para coleta e reciclagem dos aparelhos que colocam no mercado. Além disso, precisam cuidar do descarte correto dos equipamentos de uso corporativo.
E+: Sites como e-lixo.org e reciclasampa.com.br, em São Paulo, reúnem listas com postos de recebimento e grupos que fazem coleta gratuita.
BOAS PRÁTICAS: Neste ano, a 12ª edição da Campus Party coletou apetrechos eletrônicos danificados, que podiam ser trocados por ingressos.
Parceiros ambientais
Não tente solucionar sozinho a questão do descarte. Faça parcerias com empresas recicladoras, cooperativas de catadores, associações setoriais, prefeituras, fornecedores e clien tes. Veja algumas sugestões:
– Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis
– Portal de Logística Reversa da FecomércioSP
– Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre)
– Instituto GEA – Ética e Meio Ambiente
Orgânico
IMPACTO: Estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que 51% dos resíduos sólidos das cidades brasileiras são matéria orgânica — o que representa 36,5 milhões de toneladas de lixo ao ano.
O QUE FAZER: Restaurantes devem separar o material orgânico do reciclável, encaminhando gorduras e óleos para empresas especializadas.
E+: É possível decompor naturalmente restos de alimentos com a ajuda de composteiras. Além de destinar de forma correta o lixo orgânico, o equipamento gera o húmus, fertilizante natural para hortas e jardins.
BOAS PRÁTICAS: Em Curitiba (PR), o Restaurante 21 aderiu à compostagem. O adubo produzido é usado na horta e nos vasos que decoram o salão.
69% dos brasileiros dizem que não comprariam produtos ou serviços de empresas que não cuidam corretamente do lixo, segundo a Abrager (Associação Brasileira de Empresas de Gerenciamento de Resíduos).
Hospitalar
IMPACTO: Pesquisa da Abrelpe aponta que, em 2018, 4,5 mil municípios coletaram 252,9 mil toneladas de resíduos de serviços de saúde.
O QUE FAZER: Clínicas e hospitais precisam contratar uma empresa especializada em coletar os materiais e encaminhá-los para o tratamento adequado. Esse procedimento pode ser feito tanto por meio de incineração como por esterilização.
E+: As prefeituras costumam credenciar empresas para o recolhimento do lixo, que é encaminhado para unidades de tratamento licenciadas.
BOAS PRÁTICAS: O consultório de Tamara Vilela, franqueada da Odontoclinic em São Paulo, gera 15 litros de resíduo hospitalar ao dia, que são levados em sacos especiais por companhia credenciada pela prefeitura.
Tecidos
IMPACTO: A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) estima um desperdício de pelo menos 175 mil toneladas de resíduos ao ano.
O QUE FAZER: Adotar técnicas de modelagem que possam eliminar a maior quantidade de sobras. Procurar companhias de reciclagem que vão transformar pedaços de pano em outros produtos. Há novas utilizações nas indústrias de cobertores, estofamentos e decoração.
E+: Doar tecidos não aproveitados para ONGs. “A ação gera novos negócios”, diz Jackson Araújo, diretor criativo do projeto Trama Afetiva.
BOAS PRÁTICAS: A cenógrafa Lu Bueno criou, em 2015, o Banco de Tecido, em São Paulo (SP). Lá, as pessoas depositam seus panos, gerando créditos em quilos, que podem ser trocados por outros cortes.
Destino para o óleo
Quando o motorista troca o óleo do carro no posto de gasolina, não sabe o que acontece com aquela embalagem de plástico vazia. “A maioria delas, ainda com cerca de 3% de lubrificante, segue para aterros sanitários, com pouco ou nenhum tratamento”, diz Felipe Cardoso, CEO da Eco Panplas, de Hortolândia (SP). A empresa criou uma tecnologia 100% brasileira, que consegue separar o resíduo dos frascos sem utilizar água. A solução, desenvolvida ao longo de três anos, é baseada em uma linha de produção automatizada. “Os recipientes seguem para a reciclagem e o que sobrou do líquido é revendido para a fabricação de mais óleo.” Nos últimos dois anos, a Eco Panplas processou 10 milhões de embalagens, que renderam 500 toneladas de plástico reciclado e 17 mil litros de óleo.
Vidro
IMPACTO: Garrafas de bebidas chegam a permanecer na natureza por 10 mil anos. Por isso, o melhor destino para esses resíduos é a reciclagem. Especialistas afirmam que 1 kg de vidro usado gera 1 kg de vidro novo, com a vantagem de que o material pode ser reciclado infinitas vezes.
O QUE FAZER: Acerte parcerias com cooperativas de reciclagem cadastradas no seu município. Lá, os vidros serão separados, triturados e reaproveitados.
E+: Lave os recipientes antes de fazer o descarte. Não são recicláveis lâmpadas, tubos de computadores e vidros de janelas.
BOAS PRÁTICAS: O Banco de Leite Humano do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) incentiva a doação de frascos de vidro. Depois de esterilizados, eles recebem o leite que alimentará os bebês internados na UTI da instituição.
Vidro em pó
Uma equipe de professores e alunos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Toledo resolveu dar vida nova a frascos de vidro. “Queremos viabilizar a entrega do material, em forma de pó, para a construção civil”, diz o professor Ricardo Schneider. Segundo ele, o vidro moído pode substituir a areia na composição do concreto ou entrar na fabricação da cerâmica vermelha.
O projeto piloto da universidade usa uma máquina de moagem com capacidade para triturar 750 kg de vidro por hora. Os detritos vêm do aterro sanitário da cidade. A iniciativa acaba de vencer a competição nacional Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social, promovida pela Fundação Banco do Brasil (FBB).
Fonte: https://revistapegn.globo.com/Administracao-de-empresas/noticia/2020/01/como-descartar-corretamente-o-lixo-gerado-pela-sua-empresa.html