Além dos prejuízos causados pela pandemia de coronavírus, agora diversos setores sofrem com a falta de insumos e, consequentemente, com aumentos dos preços de matéria-prima. A indústria, por exemplo, encara uma alta de até 35% dos insumos utilizados no processo produtivo, além da escassez de alguns suprimentos.
Por enquanto, as empresas estão absorvendo a maior parte desse impacto, reduzindo margens que já vinham pressionadas por causa da crise da Covid-19. Porém, há o temor de que, com o crescimento da demanda, esse aumento de custos seja repassado ao consumidor a qualquer momento, pressionando a inflação.
Alta do dólar, queda da produção de insumos devido à pandemia, retomada da produção industrial mais rápida do que o esperado e aumento das exportações em decorrência do câmbio favorável, além do reaquecimento da demanda em países onde a doença já está mais controlada estão entre os fatores que explicam esse desequilíbrio entre oferta e demanda na produção, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
Outro setor que enfrenta falta de insumos e aumento de preços são os transformadores de plásticos. “Há um problema de oferta de PVC, polipropileno e polietileno”, relatou José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), à reportagem. Segundo o representante da indústria, no segmento de PVC, os reajustes chegam a superar 30% nos últimos meses.
Menos importação na pandemia
Em eletroeletrônicos, a falta de componentes vindos da China enfrentada em fevereiro não se repetiu nos meses seguintes, mas o setor ainda convive com uma alta de 30% a 40% no preço dos insumos importados. “Tivemos dois problemas simultâneos, a desvalorização do real do ano passado para este, num setor com 70% de insumos importados, e a redução dos voos, que levou a uma alta de preços do frete de cerca de 200%”, disse Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
No setor têxtil, com safra recorde de algodão, também não há falta de insumo. Mas os custos estão em alta, devido ao câmbio favorável à exportação da matéria-prima e às cotações internacionais pressionadas pela volta da atividade em regiões onde a pandemia já arrefeceu, afirmou Fernando Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), à publicação.
Insumos na construção civil
Apontado como um dos setores que mais sofreria com as medidas de isolamento social, o segmento de construção civil conseguiu recuperar rapidamente o movimento. Mas se a demanda cresceu nos últimos meses, embalada pela injeção de renda e uma mudança no perfil de cliente, a queda no valor das compras e a falta de matéria-prima tornaram o processo de retomada mais lento (e caro) para esse mercado.
Mesmo diante da crise imposta pelo coronavírus, mais de 54% dos lojistas de materiais de construção registraram aumento nas vendas em julho, na comparação do mesmo período de 2019. Para maio, o percentual foi de 42% dos líderes do varejo que reportaram um crescimento. Apenas em abril, houve retração da demanda.
Os dados são do Termômetro Anamaco, levantamento feito pela associação do varejo de construção em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), segundo reportagem da CNN Brasil. Os destaques dos últimos três meses foram os produtos básicos, como cimento, cal e areia — responsáveis por 32% das vendas —, seguidos por tintas e vernizes (26%) e material elétrico (23%).
Esses números mostram que a demanda está voltada para reformas e obras pesadas, e não mais para pequenos reparos, jardinagem e decoração, como acontecia no início da pandemia. Foi o que contou o CEO da Telhanorte, Juliano Ohta, em entrevista à publicação.
“Nosso setor não estava esperando esse crescimento. O que tem nos surpreendido nos últimos meses foi uma procura muito grande por materiais básicos para construção e reforma. Há, inclusive, falta de cimento no mercado, o que tem trazido um desafio para nós e para as construtoras e clientes no geral”, disse.
Indústria de embalagens em alta
A indústria de papelão e embalagens é um dos poucos setores da economia que não encolheram nos últimos meses, e conseguiu ampliar suas atividades. O crescimento das compras no comércio eletrônico e dos pedidos de delivery de alimentos provocado pelo isolamento impulsionou a demanda por embalagens de papel no país.
De acordo com dados do setor, nos últimos seis meses muitas indústrias aumentaram a produção para patamares acima dos registrados antes da pandemia. Os custos das embalagens aumentaram de 10% a 20% nos últimos meses. Nos seis primeiros meses do ano, o país produziu 357 mil toneladas de papel cartão (um material mais fino, usado para embalagens de refeições ou caixas de chocolate), alta de 1,4%, em relação ao mesmo período em 2019.
A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), associação que representa empresas de toda a cadeia produtiva, de árvores plantadas do campo às fabricantes de papel, também destacou que o mercado de papel para embalagens, principalmente para e-commerce e delivery, “está em plena retomada, após momentos mais críticos da pandemia, quando houve forte retração da demanda”.
Ainda de acordo com a Ibá, no mês de junho com a reabertura gradual do comércio, a demanda nacional reaqueceu rápido, “o que fez com que os pedidos por papel de embalagem subissem acima da média. Em alguns segmentos, o aumento chegou a 25%”. A entidade diz que não há risco de escassez do produto no mercado, segundo reportagem do jornal O Globo.
Fonte: https://www.ecommercebrasil.com.br/noticias/escassez-industria-embalagens-coronavirus/